Freqüentemente nos cumprimentamos, damo-nos cordialmente a mão ou nos despedimos com um beijo ritual, mas raramente experimentamos o abraço – talvez apenas nos aniversários, por ocasião do Ano Novo ou numa despedida.
A emoção do abraço tem uma qualidade insubstituível. É a proximidade do outro num ato recíproco de dar e receber afeto, de acolher o outro em toda sua “humanidade”, de assumi-lo espiritual e corporalmente. O abraço possui um matiz religioso, mais do que sexual. Alude à fraternidade, à comunhão generosa, quer dizer, tem sua fonte na consciência de se pertencer a uma Irmandade Universal que mobiliza a energia evolutiva da espécie. O abraço é um meio supremo de perceber o Outro, não apenas como um próximo mas como um semelhante. Mediante o abraço, é possível alcançar o transe de fusão de duas identidades em uma identidade maior.Em Biodança, o abraço é um ato de encontro de si mesmo e do outro. Não se trata do pseudo-abraço de pares que dançam uma música num salão, mas de um ato de progressiva e persistente fusão recíproca. Para que isso seja possível, é necessária uma atitude permissiva e aberta e um sincero desejo de receber o outro.
Mas, a quem abraçar? É muito fácil abraçar uma pessoa estimada e querida, o difícil é fazê-lo a um estranho। O encontro de Salomão com a Rainha de Sabá deve ter-se iniciado com um abraço solidário e comovido. E São Francisco chegou-se aos leprosos e lhes brindou com seu abraço. É difícil abraçar um mendigo ou um louco. Cada pessoa descobre em sua capacidade de abraçar seu nível de hominização, ou seu grau de evolução afetiva.
Rolando Toro, criador da Biodança.
